esse corpo que me abriga
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Esse corpo que me abriga vive na tendenciosidade. Não sabe o que é equilíbrio, anseia por uma perfeição mas corre na direção contrária a ela. Perfeição... ouço esse grito dentro de mim todos os dias. Não conheço vejo nada perfeito, por que então é isso que eu quero?

Esse corpo que me abriga parece não saber o que eu quero, porque o que quero, não faço, e o que não quero, esse faço.

Esse corpo que me abriga ama exageros. Ou se dá pra extrema liberdade, pra ociosidade ou àquela religiosidade inútil que só envolve a força fraca do homem.

Esse corpo que me abriga é o próprio espinho. Essa carne é o próprio espinho que fere o (genuíno) viver.

Esse corpo que me abriga anda perdido, porque um dia foi submetido a inutilidade. Tudo resultado do pecado. E a morte é sua conclusão.

Esse corpo que me abriga não conhece, nunca experimentou a totalidade da vida porque ficou preso na sua cratera. Não prova do real, da verdade, do Absoluto porque sua cratera, sua escuridão, não podem alcançar a luz.

Esse corpo que me abriga não sabe viver. 

Esse corpo que me abriga me mantém no fluxo de escravidão. Me mantém presa no ciclo da escuridão. Me afasta da luz.

Esse corpo que me abriga foi feito sob medida para um propósito totalmente contrário ao fluxo dos corpos. Alienado pelo pecado, se perdeu em si mesmo e rejeitou a necessidade, o grito pelo Perfeito Absoluto.

Esse corpo que me abriga vive no longo dilema de identidade, valor... ele, inconscientemente, vive para encontrar o propósito original, a genuinidade que traz sentido à vida. Mas na sua luta constante, não consegue.

Esse corpo que me abriga foi feito para algo além do palpável. Mas não consegue alcançar porque um dia foi submetido à espinho.

Esse corpo que me abriga, mesmo na sua perdição, foi amado de tal maneira que, por um outro corpo, foi liberto do fluxo. E apenas por esse corpo que era a Perfeição. A Perfeição procurada, desejada.

Esse corpo que me abriga só encontra o seu propósito, seu encaixe, sua razão, depois de dar a mão pra Perfeição.

Esse corpo que me abriga viveu na esfera da limitação da vida até encontrar Aquele que, antes de tudo e depois de tudo, nunca precisou ser abrigado por nada. Aquele que, antes de tudo, era. Aquele que se submeteu a esses corpos que nos abrigam e reconquistou, através da Perfeição, a vida.

Esse corpo que me abriga foi submetido ao propósito original, por amor, por escolha.

Esse corpo que me abriga, hoje, não me prende à escuridão.

Esse corpo que me abriga não me obriga mais à morte.

Esse corpo que me abriga, hoje, foi liberto pela Verdade (tão absoluta).

Esse corpo que me abriga, hoje, apenas me abriga. 
Temporariamente.





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